Disputa tarifária entre Pequim e Washington se intensifica e ameaça estabilidade do comércio internacional.
A China afirmou nesta terça-feira (8) que está disposta a enfrentar as tarifas impostas pelos Estados Unidos “até o fim”, em resposta à ameaça do presidente Donald Trump de aplicar novas taxas sobre produtos chineses — um novo capítulo na já prolongada guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
Mesmo diante dos temores de uma recessão global alimentada pelas tarifas — que derrubaram os mercados financeiros na segunda-feira (7) —, Trump dá sinais de que pretende manter sua postura agressiva nas negociações comerciais, sem indicar disposição para recuar neste momento.
Principal rival econômico de Washington — e, ao mesmo tempo, um de seus parceiros comerciais mais relevantes —, a China reagiu ao anúncio de tarifas feito pelos Estados Unidos na semana passada com medidas de retaliação. Pequim informou que aplicará taxas de 34% sobre produtos americanos a partir desta quinta-feira (9).
A resposta chinesa levou o presidente Donald Trump a escalar ainda mais o conflito, ameaçando novas tarifas que, somadas, elevariam a carga tributária dos EUA sobre bens chineses a 104%.
“Tenho grande respeito pela China, mas isso eles não podem fazer”, afirmou Trump, em declaração na Casa Branca.
Pequim, por sua vez, criticou duramente a postura americana. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Lin Jian, denunciou as “pressões, ameaças e chantagens” de Washington. Já o Ministério do Comércio chinês classificou a atitude dos EUA como “uma sucessão de erros” e afirmou que as ameaças tarifárias revelam “a natureza chantagista dos Estados Unidos”.
“Se os Estados Unidos insistirem em seguir por esse caminho, a China lutará até o fim”, declarou um porta-voz do governo chinês, ressaltando que o país adotará “contramedidas” para proteger seus “direitos e interesses”. Ainda assim, Pequim afirmou estar disposta ao “diálogo” como forma de buscar uma solução para o impasse.
Diante do aumento das tensões, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fez um apelo nesta terça-feira (8) para que os países evitem uma nova escalada no conflito e defendam uma “resolução negociada para a situação atual”, com vistas à preservação de um sistema comercial “reformado, livre, justo e equilibrado”.
Mercados voláteis
Após um início de semana turbulento, os mercados globais mostraram sinais de recuperação nesta terça-feira. As Bolsas asiáticas, europeias e americanas, que haviam registrado fortes quedas na véspera, operaram com leve alta.
Em Tóquio, o índice Nikkei subiu mais de 6%, revertendo parte da perda de 8% registrada na segunda-feira. Na Europa, os principais índices operavam no azul: por volta das 11h GMT (8h de Brasília), Paris avançava 1,4%, Londres 1,74%, Frankfurt 1,37% e Madri 0,80%.
Analistas alertam que a intensificação da guerra comercial pode levar a um cenário de maior inflação, aumento do desemprego e desaceleração do crescimento global.
O presidente Donald Trump, por sua vez, justifica sua postura afirmando que a economia dos Estados Unidos foi “saqueada” durante anos por outros países.
Na semana passada, Trump anunciou uma tarifa geral de 10% sobre todos os produtos importados. Além disso, foram estabelecidas tarifas específicas para determinados países, como os membros da União Europeia (20%) e o Vietnã (46%). As medidas devem começar a valer nesta quarta-feira (9).
Diante da ofensiva americana, os 27 países da União Europeia buscam uma resposta coordenada. Na segunda-feira (7), apresentaram uma proposta de isenção total e recíproca de tarifas sobre produtos industriais, incluindo automóveis.
Trump, no entanto, rejeitou a proposta. “Não, não é suficiente”, disse, criticando os países europeus por, segundo ele, não adquirirem produtos industriais dos Estados Unidos em volume satisfatório.
O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, afirmou em entrevista à Fox News que as tarifas anunciadas em 2 de abril têm como objetivo fortalecer a posição dos Estados Unidos nas negociações comerciais. Segundo ele, assim que houver garantias claras de abertura de mercado por parte de outros países, “o presidente Trump estará pronto para negociar”. Bessent acrescentou que “quase 70 países” já procuraram Washington para tratar do tema.
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