“Portugal e Espanha enfrentam apagão: possível causa está sob investigação”

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Falha em linha de transmissão internacional pode estar por trás do blecaute que afetou milhares na Península Ibérica

Na segunda-feira (28), um apagão de grandes proporções atingiu várias regiões da Espanha e de Portugal, deixando milhares de pessoas sem fornecimento de energia elétrica. A interrupção causou transtornos significativos, como o desligamento de semáforos e o colapso parcial nas operações de aeroportos, sistemas ferroviários e rodovias.

Causa do apagão segue sob investigação; veja as principais possibilidades

As autoridades ainda buscam esclarecer o que provocou o apagão que atingiu Portugal e Espanha na segunda-feira (28). Entre as principais hipóteses levantadas, uma possível ofensiva cibernética chegou a ser considerada.

Ataque cibernético está descartado?

A operadora espanhola de energia Red Eléctrica negou que um ataque cibernético tenha sido responsável pela falha. No entanto, o Tribunal Superior da Espanha anunciou que abrirá uma investigação formal para apurar as origens do incidente.

Apesar da negativa da operadora, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, declarou nesta terça-feira (29) que a possibilidade de um ataque não pode ser completamente descartada. Segundo ele, o fato de a Red Eléctrica não ter identificado invasões em seus sistemas não elimina a chance de uma ação externa ter ocorrido por outros meios.

O que se sabe até agora sobre o apagão

A operadora espanhola Red Eléctrica informou ter identificado duas ocorrências de perda de geração de energia — possivelmente em usinas solares — no sudoeste da Espanha. Esses episódios teriam provocado uma instabilidade no sistema elétrico, resultando na queda da interconexão com a França e, consequentemente, no colapso dos sistemas energéticos da Espanha e de Portugal.

No momento do apagão, a Espanha exportava eletricidade tanto para Portugal quanto para a França. As exportações para o território francês chegaram a operar perto do limite da capacidade disponível até às 10h (horário local). Segundo dados da Red Eléctrica, o fornecimento à França foi interrompido às 12h35, caindo de 868 megawatts para zero.

Diante do impacto, a União Europeia anunciou a abertura de uma investigação detalhada sobre os cortes de energia que afetaram os dois países. A informação foi confirmada nesta terça-feira (29) pelo Comissário de Energia da UE, Dan Jorgensen.

A rede elétrica da Espanha é conectada aos sistemas de fornecimento de energia da França, Portugal, Marrocos e Andorra.”

O que pode provocar cortes de energia?

Interrupções não planejadas no fornecimento de eletricidade, especialmente em larga escala, são frequentemente causadas por fenômenos climáticos severos, como tempestades, descargas elétricas ou ventos intensos. No entanto, no caso do apagão ocorrido na última segunda-feira, as condições meteorológicas estavam estáveis.

Cortes de energia também podem ser provocados por falhas técnicas em diferentes pontos da rede, incluindo usinas geradoras, linhas de transmissão, subestações ou outros componentes essenciais do sistema elétrico.

Na Europa, o equilíbrio do fornecimento de energia depende da manutenção de uma frequência constante de 50 Hertz (Hz). Quando essa frequência se desestabiliza, mecanismos de proteção entram em ação, desconectando automaticamente certas fontes de geração da rede para evitar danos maiores.

A matriz energética da Espanha e o que pode ter contribuído para o apagão

A Espanha se destaca entre os maiores produtores de energia renovável da Europa, com fontes eólica e solar respondendo por cerca de 43% de toda a geração elétrica do país — um índice significativamente superior à média global, segundo dados do think tank Ember.

No momento do apagão, a energia solar fotovoltaica representava cerca de 59% da eletricidade produzida no país. A geração eólica respondia por quase 12%, a energia nuclear por aproximadamente 11% e as usinas de gás natural com ciclo combinado (CCGT) por 5%, conforme registros da Red Eléctrica. Em comparação, na mesma data do ano anterior, os percentuais eram diferentes: a solar fotovoltaica correspondia a 50%, a eólica a apenas 3%, a nuclear a quase 15% e as CCGT a cerca de 11%.

De forma abrupta, entre 12h30 e 12h35 da última segunda-feira, a geração solar caiu drasticamente, de mais de 18 gigawatts (GW) para apenas 8 GW — uma queda superior a 50% em apenas cinco minutos. A causa dessa perda repentina ainda não foi determinada.

Possíveis fatores envolvidos

Especialistas do setor alertam que, antes da falha, a rede elétrica espanhola operava com baixa inércia. Isso significa que havia pouca energia armazenada em turbinas rotativas, como as de vapor ou gás, que normalmente funcionam como reserva imediata. Esse tipo de inércia é essencial para equilibrar variações súbitas entre oferta e demanda, e sua ausência pode ter agravado a instabilidade no sistema.

Limitações da energia solar e o processo de restauração

Embora seja uma fonte limpa e abundante, a energia solar contribui com pouca massa rotativa para a rede elétrica — elemento fundamental para garantir a estabilidade do sistema em momentos de oscilação.

Na última segunda-feira, a geração de eletricidade por meio de usinas a gás correspondeu a aproximadamente 5% do total produzido. Já a participação do carvão vem sendo eliminada gradualmente: a maior usina movida a esse combustível foi desativada no ano passado, e a previsão é de que a produção de energia a carvão seja totalmente encerrada na Espanha até 2025.

Como a energia é restabelecida após um apagão?

O processo técnico de retomada do fornecimento após uma falha de grande escala é conhecido como black start — ou “partida a frio”. Ele consiste na reinicialização progressiva das usinas, que são religadas de forma isolada e, em seguida, reconectadas à rede nacional.

Durante a crise energética da segunda-feira, a Espanha acionou rapidamente mais usinas hidrelétricas e termelétricas a gás, além de aumentar as importações de eletricidade da França e do Marrocos, a fim de estabilizar e recuperar o sistema.

Excesso de energias renováveis: uma possível causa?

O apagão de segunda-feira gerou discussões sobre a possível relação entre a volatilidade da geração de energia solar e eólica e a vulnerabilidade dos sistemas elétricos da Espanha a falhas desse tipo.

Em resposta, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, declarou nesta terça-feira que não há problema com o “excesso de energia renovável”. Segundo ele, a demanda naquele momento era relativamente baixa e a oferta de energia era suficiente.

O Comissário de Energia da União Europeia, Dan Jørgensen, também afirmou que o apagão não pode ser atribuído a uma única fonte de energia específica.

Apesar disso, o crescimento acelerado das energias renováveis na Europa tem causado um fenômeno peculiar: em períodos de alta incidência solar e baixa demanda, as redes ficam sobrecarregadas. Isso resulta, por vezes, em preços de eletricidade no mercado de atacado chegando a zero ou até valores negativos, o que força os parques solares a limitar sua produção para evitar excessos.

Expectativa de aumento de preços negativos em 2025

Analistas preveem que, devido à expansão contínua dos parques solares, as horas de preços negativos de eletricidade na Espanha e em Portugal devem aumentar em 2025.

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